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  • Mayombe

RACISMO

Em Mayombe a questão racial possui destaque, sobretudo na distinção entre guerrilheiros e nos relatos que alguns fazem a respeito de como enxergam a si próprios e os outros na divisão racial da sociedade. Importante lembrar que o MPLA, movimento pelo qual Pepetela militava, praticou uma política agregadora em relação aos sujeitos das diversas origens sociorraciais.

 

O recorte a seguir mostra o relato de um dos guerrilheiros, o professor Teoria, falando sobre o problema de sua mestiçagem segundo sua percepção.

 

Eu, O Narrador, Sou Teoria.

Nasci na Gabela, na terra do café. Da terra recebi a cor escura de café, vinda da mãe,

misturada ao branco defunto do meu pai, comerciante português. Trago em mim o inconciliável e é este o meu motor. Num Universo de sim ou não, branco ou negro, eu

represento o talvez. Talvez é não, para quem quer ouvir sim e significa sim para quem espera ouvir não. A culpa será minha se os homens exigem a pureza e recusam as combinações? Sou eu que devo tornar-me em sim ou em não? Ou são os homens que devem aceitar o talvez? Face a este problema capital, as pessoas dividem-se aos meus olhos em dois grupos: os maniqueístas e os outros. É bom esclarecer que raros são os outros, o Mundo é geralmente maniqueísta. (PEPETELA, 1982, p. 4)

 

A tema racial também se mistura em alguns momentos com as divisões nacionais angolanas, às quais o autor se refere como tribais. No seguinte excerto, um dos combatentes faz referência ao massacre promovido pela UPA, ocorrido no início da guerra anticolonial, onde ele evidencia as questões raciais em seu olhar e reconhece sua mudança de posicionamento após se integrar ao MPLA.

 

Por isso houve Março de 61.

Eu era criança, mas participei nos ataques às roças dos colonos. Avançava com pedras, no meio de homens com catanas e alguns, raros, com canhangulos. Não podíamos olhar para trás: os kimbundos diziam que, se o fizéssemos, morreríamos. As balas dos brancos eram água, diziam eles. Depois da independência renasceriam os que tinham caído em combate. Tudo mentira. Hoje vejo que era tudo mentira.

Massacramos os colonos, destruímos as roças, mesmo o dinheiro queimamos, proclamamos território livre. Éramos livres. Os brancos durante séculos massacraram-nos, porque não massacrá-los? Mas uma guerra não se faz só com ódio e o exército colonial recuperou o território, o território livre voltou a ser território ocupado.

Vim para o Congo e no MPLA aprendi a fazer a guerra, uma guerra com organização.

Também aprendi a ler. Aprendi sobretudo que o que fizemos em 61, cortando cabeças de brancos, mestiços, assimilados e umbundus, era talvez justo nesse momento. Mas hoje não pode servir de orgulho para ninguém. Era uma necessidade histórica, como diz o Comissário Político. Percebo o sentido das palavras, ele tem razão, nisso ele tem razão. (PEPETELA, 1982, p. 146)

Sugestão de atividade

Solicite aos educandos que redijam um texto, de modo individual, articulando a abordagem das questões raciais no romance Mayombe com a aula e as leituras sobre o racismo praticado no processo de exploração colonial nos países do continente africano.

Referências

PEPETELA. Mayombe. São Paulo: Ática, 1982.

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