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O contexto de criação da obra

As Aventuras de Ngunga inicialmente não seria um romance, pois começou a ser escrito com um objetivo pedagógico: servir de cartilha para a alfabetização dos combatentes. Pepetela decidiu escrever esta narrativa após visitar algumas escolas de base do MPLA e constatar que os livros utilizados não traziam textos nas línguas locais, o que dificultava o processo de alfabetização dos guerrilheiros.

“O Ngunga não ia ser livro. Eu estava no Leste e estava a fazer um levantamento das bases do MPLA, pela primeira vez ia-se saber quantas bases havia, quantos homens havia, quantas armas… eu ia de base em base e ao mesmo tempo acompanhava o ensino, dava uma ajuda aos professores com os manuais de matemática que eram da Ex-RDA*, demasiado modernos, e os professores tinham dificuldades com eles, comecei também a aperceber-me que os miúdos só tinham os livros da escola para ler o português, concluí que era preciso fazer textos de apoio, é aí que começa o Ngunga.

Eram textos muito simples que pouco a pouco se iam tornando mais complexos.

Como ainda assim não era suficiente os textos eram traduzidos para Mbunda

e depois eu tentava dar-lhes regras gramaticais reescrevendo o Mbunda,

assim os miúdos podiam aprender a ler na sua língua e recorrer a ela

sempre que tivessem dificuldade nalguma palavra em português.

Quando acabei cheguei à conclusão que aquilo era uma estória, dei-lhe

um fio condutor e mais tarde decidimos publicá-lo”(1).

No seguinte trecho de uma entrevista ao antropólogo Frank Marcon em 2005, o escritor falou um pouco mais sobre a concepção da obra:

Então escrevi o primeiro texto e arrumei um personagem que era um pioneiro, pioneiro é um jovem da escola. Depois escrevi dois, três, sobre a questão do nascimento, que era mais para tratar do nascimento das crianças, as relações familiares, sociais, naquelas regiões como é que eram, e criticar algumas coisas que havia a criticar das relações das sociedades tradicionais com os guerrilheiros, etc. Aí eu percebi que a ideia era que os textos fossem pequenos e muitos simples, uma linguagem o mais simples possível, que pessoas que soubessem muito pouco o português compreendessem e para que fosse traduzido para mbunda e as pessoas que só soubessem mbunda pudessem ler e iriam ler na sua própria língua que não estava escrita. Um professor andava comigo e depois que eu escrevia ele traduzia. Sobretudo o texto escrito em mbunda foi muito criticado porque fora escrito em mbunda tradicional. A ideia é que o texto fosse publicado aos pedaços, mas não chegou a ser assim e os escritos foram ficando num caderno, por diversas questões até que mudei de sítio, onde estava o Costa Andrade, que disse isto já é um livro e tem de ser publicado já e depois que os mbunda se entenderem sobre qual o mbunda em que se deve publicar, publicamos em mbunda, mas pra já publicarmos em português. O Costa Andrade era o diretor do Departamento de Cultura. Eu disse ok. Então foi publicado em 1973. Não mudei nada para que os leitores percebessem que é um livro que se foi criando. Antes da independência 300 exemplares foram feitos mimeografados e distribuídos lá pela região. Logo a seguir o “25 de abril”(2), portanto em 1974, saiu o livrinho e depois aqui num jornal. Depois foi publicado após a independência e teve uma enorme expansão, edições monstruosas mesmo, já em 1977. (MARCON, 2005, p. 258)

A obra apresenta a educação como instrumento de combate ao colonialismo, tanto por ser inicialmente pensada como uma cartilha de alfabetização, como por apresentar em seu enredo situações que mostram ao garoto Ngunga a importância de frequentar a escola, algo que ele vai compreendendo gradativamente, ao passo que o autor faz questão de mostrar o funcionamento das escolas organizadas pelo MPLA nas aldeias do país, denotando uma ideia de unidade nacional promovida através do ensino, conforme observado mais adiante neste módulo, na sessão de desenvolvimento do enredo.

A obra, dividida em vinte e oito pequenos capítulos (cada um possui menos de duas páginas) e um epílogo, trata da trajetória de um jovem órfão chamado Ngunga, que percorre diversos locais em Angola e vai se desenvolvendo e amadurecendo através de suas experiências, aprendizados e tomadas de decisões. A narrativa é simples, direta e panfletária, no sentido de mostrar a importância do contato do MPLA com a população, de defender a ideologia do movimento, da educação enquanto instrumento de combate ao colonialismo, da união de todos contra o inimigo comum (o colonizador) e da conscientização acerca de uma identidade nacional angolana.

As experiências que Ngunga adquire através de sua passagem por diversos âmbitos sociais e pelo contato com representantes de diferentes posicionamentos ideológicos (representados por personagens secundários) resultam na renovação de sua consciência de sujeito angolano e na compreensão de seu lugar no combate contra a exploração pela metrópole lusitana. O percurso do jovem Ngunga o modifica, de modo que, no final da narrativa, “um homem tinha nascido dentro do pequeno Ngunga” (PEPETELA, 1981, p. 56).

Partindo do amadurecimento que essa vivência lhe proporciona, ele desenvolve uma nova percepção de si mesmo e do papel dos angolanos no processo de emancipação de Angola. Sua compreensão da realidade vai se tornando cada vez mais aguçada à medida que ele se desloca pelas aldeias e passa por experiências diversas.

O enredo do romance também apresenta algumas práticas corruptas, nocivas ao povo angolano, realizadas por líderes locais, destacando que a construção de uma nação livre não implica apenas em uma luta contra o domínio do colonizador, mas também em uma luta interna contra aspectos presentes nas próprias culturas locais, com o objetivo principal de fortalecer um senso de cidadania coletiva entre os angolanos.

Na trama, Pepetela defende valores tradicionais como os momentos de integração comunitária (as festas nos povoados celebrando o nascimento de uma criança, por exemplo) e o respeito aos mais velhos e seus saberes, mas também aponta o que considera que precisa ser modificado e quais costumes devem ser alterados ou abolidos pelo bem da comunidade após a independência, conforme será visto na sessão seguinte. De acordo com a narrativa, através das observações e conclusões do menino Ngunga, o respeito aos mais velhos não pode ser um motivo pra se ignorar os eventuais erros que eles venham a cometer.

Na trajetória de formação do caráter do protagonista se destacam as reflexões a respeito das relações entre os moradores dos povoados (kimbos), bem como a respeito do comportamento de chefes locais e membros do MPLA que ocupam lugares de poder no âmbito do Movimento.

Outros personagens se destacam na trama: Nossa Luta, amigo que abrigava Ngunga no início da estória e se tornou guerrilheiro mais tarde; Kafuxi, chefe local de um importante kimbo; Mavinga e Avança, comandantes de esquadrões do MPLA; União, professor que ensinou e deu moradia a Ngunga; Uassamba, moradora de um kimbo, por quem Ngunga se apaixonou; Chipoya, chefe local do kimbo de Uassamba.

Diversas situações obrigam o jovem Ngunga, de apenas 13 anos, a viajar (em longas caminhadas) por diferentes lugares e ir conhecendo a realidade de algumas aldeias angolanas no quadro da luta pela independência. Num primeiro momento ele vai para um povoado receber tratamento médico por conta de um ferimento no pé e após ser medicado e refletir sobre seu estado de solidão, visto que o único amigo (Nossa Luta) partiu para uma guerrilha, resolve se instalar em outra localidade. Foi acolhido pelo chefe Kafuxi, passando a morar com sua família, com a incumbência de ajudar nos afazeres domésticos.

Em sua nova moradia, Ngunga passa pela primeira de suas decepções com os homens. O chefe Kafuxi é um exemplo de líder local que não contribui efetivamente com o movimento, apresentando em vários momentos uma personalidade individualista, contrária ao ideário coletivo de libertação nacional. O seguinte trecho mostra uma de suas atitudes, negando auxílio aos combatentes: “quando chegava um grupo de guerrilheiros [...] (Kafuxi) mandava esconder a fuba. Dizia às visitas que não tinha comida alguma” (PEPETELA, 1981, p. 15).

Na narrativa, Kafuxi é a representação de alguns dos obstáculos que os movimentos de libertação enfrentavam e poderiam causar o atraso da independência nacional ou, talvez, o fracasso dos esforços dos guerrilheiros.

As atitudes do jovem Ngunga, em contraponto a sujeitos como o chefe Kafuxi, incentivam o comprometimento com os propósitos da luta anticolonial, como neste trecho onde o garoto resolveu desmascarar o chefe Kafuxi diante de um comandante de um esquadrão do MPLA:

E, um dia em que apareceu o comandante do esquadrão com três guerrilheiros, aconteceu o que tinha de acontecer.

O velho lamentou-se da fome, dos celeiros vazios. Mandou trazer um pratinho de pirão para o comandante. Para os outros nada havia. O comandante teve de dar dois metros de pano e outro pratinho apareceu.

Ngunga não falou. Começava a perceber que as palavras nada valiam. Foi ao celeiro, encheu uma quinda grande com fuba, mais um cesto. Trouxe tudo para o sítio onde estavam as visitas e o Presidente Kafuxi. Sem uma palavra, poisou a comida no chão. Depois foi a cubata arrumar as suas coisas. Partiu, sem se despedir de ninguém. O velho Kafuxi, furioso, envergonhado, só o mirava com os olhos maus. (PEPETELA, 1981, p. 15-16)

Dando continuidade a sua caminhada, Ngunga encontrou uma secção (base) de guerrilheiros do MPLA, e após a imensa tristeza ao saber da morte de seu amigo Nossa Luta, resolveu aceitar o acolhimento oferecido pelos combatentes.

Nessa base, o jovem conheceu o comandante Mavinga, chefe do esquadrão local, sujeito com grande prestígio entre os moradores da secção. A partir de então Ngunga adentrou uma nova etapa em seu processo de maturação, pois a despeito de sua vontade em ficar na base e ajudar diretamente os guerrilheiros, o comandante Mavinga o encaminhou para um kimbo onde pudesse estudar. Ngunga relutou muito, mas não convenceu o comandante, e então foi morar na escola sob a tutela do professor, União.

Como citado anteriormente. a escola tem um sentido especial no enredo, pois representa a importância da educação no projeto do MPLA, ressaltando que a formação de um bom guerrilheiro não pode prescindir os conhecimentos escolares. No dia de sua chegada na escola, Ngunga presenciou a cerimônia de abertura das aulas:

O povo veio com as crianças. O comandante falou-lhes. A escola já estava pronta, podiam começar as aulas. O professor União tinha sido enviado de longe pelo Movimento, para ensinar. No tempo do colonialismo, ali nunca tinha havido escola, raros eram os homens que sabiam ler e escrever. Mas agora o povo começava a ser livre. O Movimento, que era de todos, criava a liberdade com as armas. A escola era uma grande vitória sobre o colonialismo. O povo devia ajudar o MPLA e o professor em tudo. Assim, o seu trabalho seria útil. As crianças deveriam aprender a ler e a escrever e, acima de tudo, a defender a Revolução. Para bem defender a Revolução, que era para o bem de todos, tinham de estudar e ser disciplinados.

Assim falou o comandante Mavinga, na abertura da escola. Depois falou o professor e o presidente do Comité de Ação, o camarada Livanga. (PEPETELA, 1981, p. 25-26)

As experiências no ambiente da escola contribuíram muito para a formação do combatente Ngunga no sentido amplo. Morando com o professor e Chivuala, um aluno mais velho, o garoto deu provas de sua lealdade e senso de coletividade. União percebeu que Chivuala o enganava e mesmo ciente da situação, mas sem poder provar nada, Ngunga não o acusara. O trecho abaixo mostra a reação do professor ao desmascarar Chivuala:

– Não, Chivuala, o Ngunga não se queixou. Mas eu vi tudo. Perguntei-lhe e o Ngunga não quis acusar-te, disse que tinha caído. O Ngunga é incapaz de acusar os outros, ele mesmo espera que os outros confessem eles mesmos, como ele faz quando erra. O Ngunga é um bom pioneiro, corajoso e sincero. Ele não quis denunciar-te, quando roubaste a comida. E sabia que tinhas sido tu. Suportou a minha desconfiança. Devo dizer-te que, desde o princípio, pensei que eras tu, Chivuala. Outro qualquer teria vindo dizer-me que tinhas sido tu, para eu não suspeitar injustamente dele. Não o Ngunga. Infelizmente, tu não és assim. Tens inveja do Ngunga, não podes aguentar que ele seja melhor do que tu. Por isso vais-te embora, não te quero aqui connosco. (PEPETELA, 1981, p. 31-32)

Após esse episódio, a escola foi atacada por soldados colonialistas, e o jovem aprendeu na prática a lutar como um guerrilheiro, ajudando o professor na contenção e até abatendo alguns inimigos. Após serem capturados pelos portugueses, Ngunga conheceu outro lado da luta, tendo contato com alguns presos e com agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado – PIDE*. Chamou a atenção do garoto a fala do cozinheiro da cadeia, em trecho reproduzido a seguir, expondo sua mentalidade colonizada, indo contra tudo em que Ngunga acreditava:

[…] O cozinheiro era um velho resmungão. Já sabia da história de Ngunga.

– Vocês julgam que vão ser independentes – dizia ele. – Estúpidos! Se

não fossem os brancos, nós nem conhecíamos a luz elétrica. Já tinhas

visto a luz elétrica e os carros, seu burro? E queres ser livre. Livre de quê?

Para andares nu a subir nas árvores? (PEPETELA, 1981, p. 37)

Ngunga soube que o professor União estava em outro local

sendo muito torturado, mas não dedurou seus companheiros,

aumentando ainda mais sua admiração pelo mestre.

O garoto conseguiu fugir da cadeia e após muito

caminhar encontrou uma base do MPLA. Sua reflexão no

trecho a seguir mostra como o autor procurou reforçar a luta

contra o inimigo colonialista:

As pessoas de quem gostara e de quem não gostara vinham-lhe à lembrança: os pais, Mussango, Kafuxi, Imba, Nossa Luta, Mavinga, Chivuala, União. Bons ou maus, todos tinham uma coisa boa: recusavam ser escravos, não aceitavam o patrão colonialista. Não eram como os G.E.* ou o cozinheiro da PIDE. Eram pessoas;

os outros eram animais domésticos. (PEPETELA, 1981, p. 41)

Ngunga conseguiu reencontrar o comandante Mavinga,

mas antes disso conheceu uma moça chamada Uassamba,

pela qual ficou encantado, mas passou a sofrer após saber

que ela, apesar de muito jovem, era casada com o chefe

da aldeia, Chipoya, sendo uma de suas quatro esposas, e

se viu impotente para lutar contra essa situação, passando então por sua primeira decepção amorosa. Tal desapontamento contribuiu ainda mais para sua maturação, enquanto sujeito ativo na sociedade.

O processo de transformação de Ngunga em guerrilheiro vai do início ao fim da obra, sendo o eixo em torno do qual se desenvolve a narrativa. Assim, ele é a representação do cidadão ideal da nação que se deseja construir, de forma que a construção do protagonista no enredo tem como objetivo despertar o guerrilheiro dormente no interior de cada angolano, pois, de acordo com a obra, esse guerrilheiro está presente em todos que não aceitam os grilhões do colonialismo. A partir da preocupação de delinear esse tipo de cidadão que se pretende formar, o conteúdo da narrativa centra-se na luta pela libertação, nos efeitos da colonização sobre a sociedade angolana e nos aspectos que precisam ser superados para a construção plena de uma nação em um meio multicultural. Ngunga, então, como esse tipo ideal, procura combater o sistema vigente e compreende seus direitos e deveres, assumindo seu lugar na luta pela independência.

Pepetela cumpriu nesta obra a função de incentivar a formação de protagonistas na luta pela independência de seu país, tendo em vista a clareza na linguagem e na mensagem pautada na importância de uma luta organizada e com ampla participação popular.

Cabe destacar algumas escolhas literárias do autor que evidenciam seu pensamento político no que se refere aos destinos do país independente, casos do trato com a educação escolar e o amadurecimento do garoto Ngunga através de suas experiências. Como ficou demonstrado no desenvolvimento do enredo, Pepetela desenhou o surgimento e a formação de um bom combatente, deixando evidente a importância da escola, inclusive como instituição ligando o MPLA à população nas aldeias.

Paralelo a isso, o escritor deixou clara a sua visão a respeito de aspectos culturais que precisariam se modificar no processo de emancipação do país, no sentido de que a luta pela independência não deve se dar apenas no combate bélico contra os portugueses e seus apoiadores, pois deve ser ampliada para diversas frentes de batalha, sobretudo internamente nos costumes e na organização social.

De modo geral, o romance As Aventuras de Ngunga mostra a trajetória de vida de um guerrilheiro sensível aos problemas de seu povo, e que gradativamente foi compreendendo a luta contra um inimigo comum a toda uma coletividade oprimida pertencente a uma mesma nação, revelando com clareza a opção política do movimento de libertação em conceber uma Angola livre, independente e nacionalmente unificada, não obstante as múltiplas identidades presentes no território angolano, às quais o autor não fez distinção, e assim reforça a ideia de unidade da nação presente no projeto do MPLA.

Estrutura e aspectos gerais do romance

Desenvolvimento do enredo

Conclusões

* PIDE  

  • criada em 22 de outubro de 1945, no auge do Estado Novo(3) português, a função desta polícia era perseguir, prender e interrogar qualquer individuo que fosse visto como inimigo à ditadura salazarista. Estes opositores ao regime eram levados para prisões em Portugal como as dos Fortes de Caxias e de Peniche, ou a do Tarrafal, na ilha de Santiago, no arquipélago de Cabo Verde. 

* RDA  

  • República Democrática Alemã/Alemanha Oriental. 

* G. E.  

  • Grupo Especial: Unidades de soldados angolanos no exército português

Referências

MARCON, Frank Nilton. Leituras Transatlânticas: Diálogos sobre identidade e o romance de Pepetela. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Antropologia Social. UFSC. Florianópolis, 2005.
 
PEPETELA. As Aventuras de Ngunga. São Paulo: Ática, 1981.

Notas

(1) Conforme depoimento publicado pela Universidade de Lisboa através do Centro de Investigação para

Tecnologias Interativas (CITI). Disponível em: http://www.citi.pt/cultura/literatura/romance/pepetela/ngunga.html

(2) Referência à Revolução dos Cravos

(3) Definição extraída de http://ensina.rtp.pt/artigo/historia-da-pidedgs/ 

As Aventuras de Ngunga e a cartilha do guerrilheiro na guerra anticolonial

Ngunga 1ed_edited.jpg

Capa da primeira edição tipografada, em 1976. Extraída de https://revistas.ufrj.br/index.php/mulemba/article/view/14581 

As Aventuras de Ngunga

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