HISTÓRIA & LITERATURA
Angola e a luta anticolonial
À medida que buscaram se distanciar da literatura colonial portuguesa, os literatos angolanos da chamada “Geração de 50”(5) encontraram na literatura brasileira suas maiores referências. Ao levantarem o sofrimento e a resistência dos angolanos diante da exploração colonial, estes escritores se identificaram fortemente com as abordagens dos romances modernistas e regionalistas brasileiros.
Uma característica importante desses dois movimentos literários brasileiros foi a pretensão em desenvolver uma autonomia temática, rompendo com a tradição cultural e literária europeia. A busca pelas raízes culturais, principalmente no modernismo, reforçando o sentimento nacionalista brasileiro, e o foco nos aspectos sociais de sua própria região, caso do regionalismo nordestino, serviram de exemplo aos escritores angolanos, que ainda viviam uma realidade sob o jugo colonial e buscavam se afastar das influências lusitanas para construir uma ideia de nacionalismo autentica e livre. De acordo com Anabela Cunha,
O processo de consciencialização literária e cultural em Angola ocorreu nos anos 1940 e princípios de 1950. Este processo, iniciado em Luanda, foi protagonizado por intelectuais angolanos da chamada “Geração de 50”, cujas obras demonstravam o carácter modernista que se começava a criar na literatura angolana. Estas obras literárias foram espelhadas nas revistas angolanas Cultura e Mensagem, que marcaram o início de uma nova fase literária. Com o surgimento da “Geração de 50”, podemos falar de uma literatura essencialmente angolana, marcada sobretudo, pela influência literária do nordeste brasileiro. Este grupo composto por indivíduos negros, mestiços e brancos, que além de se identificarem de certa forma com o nordeste brasileiro, sentiram a mesma angústia dos intelectuais nordestinos e viram espelhada na experiência nordestina a sua experiência. (CUNHA, 2011, p. 8)
Livros de escritores como José Lins do Rego, Jorge Amado e Graciliano Ramos chegaram em Angola a partir das décadas de 1930 e 1940 e ajudaram a incentivar nos literatos angolanos da geração de 1950 a construção de uma literatura avessa a qualquer exaltação dos padrões estéticos europeus e voltada para desenvolver expressões próprias de sua realidade histórico-social. De acordo com Rita Chaves, uma das maiores referências no estudo das literaturas africanas de língua portuguesa,
...as lições do romance regionalista brasileiro revelavam-se adequadas à elaboração de um discurso literário orientado por um princípio ético de natureza popular. Assim, Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, escrevendo do Nordeste e sobre problemas sociais daquela sociedade, encontravam em Angola leitores interessados, gerando, ainda que sem saber, uma fértil interlocução. (CHAVES, 2005, p. 27-28)
Cabe registrar que a literatura angolana anticolonial não se desenvolveu plagiando os autores dos movimentos literários brasileiros, visto que esses foram modelos para os angolanos, que elaboraram uma escrita original, caracterizada por suas diversas marcas culturais, como pode-se acompanhar pelos livros de Pepetela e Luandino Vieira, sobretudo nas resenhas do quarto ao sétimo módulo. No fragmento abaixo, Vinicius Cione mostra brevemente como um autor se utilizou dessa influência,
Luandino trava um interessante diálogo com João Guimarães Rosa: como o escritor mineiro, não se limita a fazer um registro do falar regional, mas o recria como algo novo, a fim de buscar uma conscientização do leitor sobre a linguagem, elevar o kimbundu e “desautomatizar” a leitura. Em outros termos, não se contenta simplesmente em escrever palavras na língua local, mas utilizar sua estrutura linguística para subverter e dominar o português. (CIONE, 2012, p. 78)
Em resumo, a literatura angolana se afastou totalmente de qualquer exaltação à nação portuguesa e tomou corpo através da luta pela independência na prática e inspirada nos exemplos fecundos da literatura brasileira, conforme define com primor a historiadora angolana Anabela Cunha
Podemos dizer que o processo de formação da literatura angolana foi longo e surgiu em contraposição à literatura de influência europeia que se verificou em períodos anteriores. A literatura angolana surgiu num período marcado, sobretudo, por contestações políticas; pelo despertar da consciência dos africanos e pela luta pela independência das colônias africanas. Todos esses factores de certa forma contribuíram para aprimorar as características da literatura angolana, apesar da influência brasileira. Essa influência brasileira foi mais notória num determinado período da literatura angolana, quando os angolanos necessitavam de descobrir as suas origens e ir à busca dos valores culturais africanos, com vista à negação da influência literária portuguesa. Nessa época, o Brasil aparece como um país “irmão”, cuja influência cultural sobre muitos angolanos já se fazia sentir desde épocas anteriores. (CUNHA, 2011, p. 8)
Na sequência estão reproduzidos trechos de entrevistas de Pepetela(6) e Luandino Vieira onde falam sobre as influências da literatura brasileira em suas obras.
A Literatura angolana anticolonial
O contexto de luta contra o regime colonial e violenta repressão por parte do governo lusitano se configurou num terreno fértil para o florescimento de uma escrita literária centrada na construção de caminhos que levassem à independência angolana. Nas palavras do escritor angolano Manuel dos Santos Lima “A colonização tendo sido, como dissemos, uma das causas directas da moderna literatura africana de expressão portuguesa, esta tornou-se facilmente uma literatura engajada, anticolonial.”(1)
Nesse sentido, o presente módulo traz importantes informações a respeito da literatura produzida nesse período, suas influências, indicações de outras obras inscritas na temática anticolonial, bem como o envolvimento dos escritores, romancistas e poetas, nas movimentações contra o colonialismo.
A literatura na luta pela independência de Angola
Os movimentos de luta pela independência contaram com intensa participação de escritores literários em Angola, sobretudo ligados ao MPLA, movimento que teve na literatura um importante vetor para difusão de seus ideais emancipatórios.
Analisando de modo amplo, as literaturas gestadas em países alvos da violência colonial tendem a se conectar com o sofrimento da realidade local e com a resistência à exploração por parte das metrópoles, e invariavelmente precisam lidar com uma situação onde a grande maioria de sua população não dispõe de acesso aos seus escritos. Na introdução do artigo intitulado A luta anticolonial angolana em Luandino e Pepetela(2), publicado na revista Sankofa em 2012, Vinicius Melleu Cione, baseado em Antonio Candido, trata dessa ampla conjuntura da produção literária anticolonial no recorte a seguir.
Neste contexto de hiperperiferia, o escritor não costuma pertencer à mesma classe social da maioria da população, em geral analfabeta, e é obrigado a escrever a um público estrangeiro, ainda que engajado na recuperação expressiva do país. Tal projeto de fundação da cultura nacional passa por diversas contradições. Além de recorrerem a um procedimento, a escrita, alheio ao grupo social que supostamente estariam representando (ainda mais num ambiente de tradição oral), estes escritores utilizam-se da língua do colonizador para afirmar a resistência e um projeto de país. Em África, deve-se acrescentar a dimensão da guerra e da violência no fazer literário e a consciência do escritor da não-universalidade de seu patrimônio cultural, sufocado pela hegemonia internacional do pensamento ocidental com base na filosofia greco-romana e na tradição judaico-cristã. (CIONE, 2012, p. 64)
Sobre a literatura produzida em Angola para além desse recorte anticolonial, a historiadora angolana Anabela Cunha inclusive afirma que a gênese de uma literatura genuinamente angolana se deu justamente nesse período de luta pela independência, tendo em vista que os escritos literários iniciados no país no século XIX estavam profundamente marcados pelo colonialismo, numa idealização de Portugal. O trecho abaixo de seu artigo publicado em 2011 na Revista Angolana de Sociologia mostra esse ponto de vista.
A literatura angolana foi surgindo paulatinamente, tendo em conta as mudanças sociais ocorridas na colônia de Angola, a uma certa tomada de consciência por parte dos africanos acerca da sua própria identidade. Essa literatura africana foi resultado de um longo processo. Os novos contornos que adquiriu distinguiam-na da literatura que se fazia no século XIX, considerada europeia.
À medida que o processo de colonização se foi intensificando em Angola, também foi crescendo o processo de marginalização social e econômica dos angolanos. Começou também a verificar-se o aumento paulatino do descontentamento de uma certa camada social face à colonização. É nesse contexto que surge a necessidade de se criar uma literatura que se diferenciasse da literatura portuguesa, ou seja, que se distanciasse de tudo o que estivesse relacionado ao opressor. Foi assim que, nos finais da década de 1940, os poetas angolanos sentiram a necessidade de criar uma nova literatura que iria abrir os caminhos para uma literatura tipicamente angolana. (CUNHA, 2011, p. 5)
Na década de 1940, o governo português, no intuito de sufocar movimentos contestatórios nas colônias, criou a Casa dos Estudantes do Império Português (CEI), associação cultural com o objetivo de formar os estudantes africanos como seus aliados, mas que acabou resultando num efeito contrário aos interesses lusitanos, por conta do florescimento dos ideais emancipatórios mediante o contato entre os intelectuais oriundos dos países sob dominação colonial no continente africano. Segundo a professora e pesquisadora de História da África Leila Leite Hernandez, no livro A África na sala de aula: visita à história contemporânea,
... foi, sem dúvida, a “Casa dos Estudantes do Império Português” o centro efetivo de reunião dos estudantes das colônias, dela participando Vasco Cabral, Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Luís Motta e Marcelino dos Santos, entre outros. Instituída pelas autoridades salazaristas pouco antes da Segunda Guerra Mundial, paradoxalmente foi o lugar onde vieram a ser discutidos temas como a independência, a unidade africana, o desenvolvimento e o socialismo, além de se pensar na organização da luta por esses ideais. (HERNANDEZ, 2005, p. 521)
A partir do início da década de 1950, ganharam força em Angola os movimentos literários – caso do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola(3) (MNIA) – que buscavam uma espécie de resgate das raízes culturais do país no sentido de denunciar as mazelas da colonização e fomentar uma concepção de nacionalidade, mesmo em se tratando de um território habitado por diversas nações. A poesia teve grande relevância nos primeiros anos, nos círculos literários e nas publicações clandestinas. Com o passar dos anos foi se desenvolvendo também uma prosa contestatória ao regime colonial, fortalecendo uma literatura combativa com forte caráter nacionalista e anticolonial, onde a propósito seus “artesãos” eram militantes pró-independência. Escritores como Manuel dos Santos Lima, Castro Soromenho, Oscar Ribas, Pepetela, Luandino Vieira e Assis Junior(4) foram os principais nomes a escreverem os primeiros contos e romances no esteio dessa literatura anticolonial. Este último, o mais antigo da lista, foi pioneiro ao apresentar em sua estética literária rupturas com a literatura colonial existente. Segundo João Paulo Henrique Pinto, em artigo de 2017,
Considerado o fundador do romance angolano, O Segredo da Morta (romance de costumes angolenses) é a primeira obra no campo da ficção a analisar as relações culturais promovidas pelo colonialismo, marcada por uma dualidade cultural, onde conflitos, aproximações e sínteses têm espaço. Sendo assim, Assis Júnior valorizou o ambiente cultural da colônia ao relatar os costumes angolenses, ao abrir um espaço em sua escrita às marcas da oralidade e ao quimbundo, indo além do estilo proposto pela literatura colonial e inspirando uma série de escritores que viriam (sic) a criar um novo movimento literário em Angola. (PINTO, 2017, p. 105)
Em suma, os intelectuais dessa geração surgida no final da década de 1940, e que ganhou força na década seguinte, apresentavam dois objetivos principais: 1) a ruptura com o domínio cultural exercido à força pela metrópole sobre os países que sofreram intervenções coloniais, sobretudo no campo literário, o que ajudou a fomentar posteriormente a luta política contra Portugal; 2) a formação de uma identidade nacional própria para Angola, no sentido de projetar uma nação independente, mesmo que as ideias ainda fossem incipientes e ainda com o desafio de articular as diversas nações sob um mesmo ideário de combate anticolonial. A professora e pesquisadora Laura Cavalcante Padilha, em seu livro Entre voz e letra: O lugar da ancestralidade angolana no século XX, avalia a ressonância desse movimento literário,
Começa a ter peso, a partir da década de 1950 – década, aliás, que marca profundamente a história geopolítica dos países colonizados – tudo que traz o traço da alteridade angolana, passando a produção literária a vincular-se estreitamente à construção da nacionalidade. […]
[…] Literatura e construção da nacionalidade são as duas faces de uma mesma moeda, cunhada, em um primeiro momento, entre 1948 e 1975, pelas várias gerações de escritores. Nascem, pois, ao mesmo tempo, a moderna literatura, a consciência da nacionalidade e a luta pela libertação, sendo difícil separar os processos estético e político-ideológico, que estabelecem entre si significativas interfaces, mesmo depois da independência. (PADILHA, 2007, 174-175)
Segundo Rita Chaves, até o momento da eclosão desses movimentos literários contestatórios, “esta falta de uma análise mais profunda e complexa sobre os povos naturais de Angola e de suas tradições culturais era um reflexo da falta de protagonismo dos próprios angolanos em sua história.” (CHAVES, 2005, p. 73). A partir da década de 1950 começou a ser produzida uma prosa literária indo ao encontro desse protagonismo. Analisando essa literatura combativa, a autora afirma que
...o gesto de refletir incisivamente sobre a formação da realidade que o rodeia e as formas que ela vai ganhando é um ato de resistência quase natural ao escritor angolano. Vivendo a experiência de um presente hostil, experimentando o breve alívio de uma conquista a ser celebrada, ou vivenciando um tempo de futuro tão incerto, o escritor de Angola tem o seu imaginário povoado por dimensões do passado e, quase sempre, o regresso a esse tempo anterior conduz o seu exercício de pensar a sua contemporaneidade e vislumbrar hipóteses para um mundo que, por razões diversas e em variados níveis, lhe surge como um universo à revelia. (CHAVES, 2005, p. 61-62)
O trecho a seguir, citado por Rita Chaves, revela a importância dessa literatura anticolonial para a construção de uma identidade nacional angolana. A pesquisadora extraiu este excerto do documento de fundação da União dos Escritores Angolanos (UEA), datado de 1975, e publicado após a proclamação da independência de Angola.
A história de nossa literatura é testemunho da geração de
escritores que souberam, na sua época, dinamizar o processo
de nossa libertação exprimindo os anseios profundos de
nosso povo, particularmente o das camadas mais exploradas.
A literatura angolana surge assim não como simples
necessidade estética, mas como arma de combate pela
afirmação do homem angolano. (CHAVES, 1999, p. 70)
Finalizando esta sessão, cabe pontuar que o MPLA contou com intensa participação de intelectuais, poetas e romancistas, e sendo um movimento que tinha em seus objetivos alcançar o apoio dos angolanos das diversas origens e características sócio-raciais, lançou mão da escrita literária em poemas e prosas para divulgar e fortalecer seu projeto de nação, conforme pode-se verificar nas obras de Pepetela e Luandino Vieira. Citando Laura Padilha,
Os escritores se fazem também revolucionários, participando ativamente do movimento político de libertação. Por isso são quase todos presos e/ou exilados, quando não vivem na clandestinidade da guerrilha. Após a independência, em 11 de novembro de 1975, eles passam, por sua vez, a formar os quadros dirigentes, empenhando-se diretamente na mudança estrutural do país. (PADILHA, 2007, p. 174-175)
PARA SABER MAIS
O principal líder do MPLA e primeiro presidente de Angola foi Agostinho Neto, médico e escritor com intensa atividade literária no campo da poesia.
PARA SABER MAIS
No ensaio a seguir, escrito para a UEA, Pepetela fala sobre os Novos Intelectuais de Angola, dentre outros aspectos da literatura de seu país: https://www.ueangola.com/criticas-e-ensaios/item/122-algumas-quest%C3%B5es-sobre-a-literatura-angolana
Influências da literatura brasileira sobre os escritores angolanos
PARA SABER MAIS
Em entrevista a um portal de notícias brasileiro em 2017, Pepetela falou sobre suas influências na Literatura brasileira. A entrevista completa pode ser lida no link da nota nº 6.
- O senhor certa vez disse ser mais influenciado (ao menos no começo da vida literária, na infância) por autores brasileiros como José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Érico Veríssimo. Todos eles tem personagens ambientados em regiões carregadas com fortes traços de certas cicatrizes coloniais ou de conflito. Já pensou no porquê disso?
- Sim. E não era só eu. Todos meus amigos ainda em infância liam escritores brasileiros. Primeiro porque eles eram mais acessíveis que os portugueses, eles chegavam em Angola quando éramos pequenos. Depois é que os temas, especialmente em Graciliano e Jorge Amado, mostravam certas semelhanças com a vida na nossa terra. Traços dessas cicatrizes e conflitos por ti citados. Mas ainda antes de me atentar pra isso, eu gostava muito de José Lins do Rego e aprendi depois a ver a beleza do trabalho de Érico Veríssimo, realmente monumental.
PARA SABER MAIS
Em entrevista concedida em 2007, Luandino Vieira falou sobre suas influências na Literatura brasileira. O link para a entrevista completa encontra-se na seção de referências e no módulo de mesmo nome.
- Qual a importância da Literatura brasileira para a formação de sua obra e da Literatura angolana?
- A minha obra literária baseia-se no meu trabalho a partir da minha experiência e das minhas leituras. Grande parte da minha experiência foi adquirida através de leituras desde os nove anos. Eu leio desde os nove anos, leio literariamente. E aí, nessa vivência, perto a grande literatura universal a que tive acesso, está a literatura portuguesa do período neo-realista, sobretudo os neo-realistas portugueses. E está a Literatura brasileira naquilo que ao tempo era a verdadeira Literatura brasileira que era literatura nordestina que era a que nos chegava a Angola. Portanto, na minha formação, tanto entraram os clássicos portugueses do ensino secundário, quando a gente está no secundário, não gosta muito de ler e acha que ler Camões ou Vieira, é uma chatice. Mas, eu não, eu gostava de ler e li. E minha professora isso tinha em conta, e depois, a Literatura brasileira que me chegava por vias legais e outras por vias clandestinas: Lins do Rego, Raquel, Jorge amado, Érico Veríssimo; sei lá o que eu li, eu li quase tudo que havia disponível naquele tempo, eu fiquei quase fixado em Menino de Engenho, Bangüê, os livros do Zé Lins, do ciclo da cana de açúcar. Depois também os romances do Érico Veríssimo. Eu lembro que o primeiro livro que eu comprei, tinha dezesseis anos, eu saí de casa, fui trabalhar, e o primeiro dinheiro que eu ganhei, eu fui buscar, eu comprei Clarissa, Érico Veríssimo; ainda tenho este livro, que diz: “comprado com o meu primeiro dinheiro”. Então, fui formado. O Jorge amado que me deu uma visão da humanidade, dos seus personagens, da inclusão de todo o tipo de personagem como tão valioso como qualquer outro tipo de personagem e, sobretudo, a questão da introdução do negro na Literatura, a partir de Jubiabá que ninguém pode mais esquecer; e, depois, Guimarães Rosa por suas personagens, por sua ética. As questões éticas em Grande Sertão, o diálogo do bem e do mal, e dum ponto de vista óptico, ontológico...
Indicações de obras em prosa da literatura angolana anticolonial
ESCRITOR TÍTULO DA PRODUÇÃO
Assis Junior O Segredo da Morta (romance de costumes angolenses) (1935)
Castro Soromenho Terra Morta (1949)
Manuel dos Santos Lima As Sementes da Liberdade (1965)
Manuel Rui Regresso Adiado (1973)
Uanhenga Xitu Mestre Tamoda (1974)
Os Discursos de Mestra Tamoda (1984)
Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem (1980)
Notas
(1) Ensaio escrito para a União dos Escritores Angolanos. Disponível em https://www.ueangola.com/criticas-e-ensaios/item/297-reflex%C3%B5es-sobre-a-literatura-angolana
(2) Este artigo discute três obras de Pepetela e Luandino Vieira, dentre elas Mayombe e Luuanda, sob o enfoque da luta anticolonial e da afirmação nacional. Dados dessa produção encontram-se ao final desse módulo e em Referências.
(3) Organização cultural nacionalista formada por literatos que pretendiam fundar uma literatura autenticamente angolana, e desse modo contribuíram decisivamente para o fortalecimento da literatura angolana anticolonial.
(4) António de Assis Júnior nasceu em Golungo Alto, Província do Cuanza Norte, Angola, em 1877. Destacou-se no campo literário com uma obra marcada principalmente pela valorização dos costumes dos povos de Angola. Faleceu em Lisboa em 1960.
(5) Geração de escritores que iniciou a literatura angolana anticolonial.
(6) Link da entrevista: https://www.rdnews.com.br/final-de-semana/arte-e-cultura/vencedor-do-camoes-pepetela-diz-acreditar-nos-ideais-da-juventude/85028
Referências
CHAVES, Rita. Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários. Cotia: Ateliê, 2005.
CIONE, Vinicius Melleu. A luta anticolonial angolana em Luandino e Pepetela. Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana, São Paulo, v. 5, n. 9, p. 64-88, jul. 2012. Disponível em http://www.revistas.usp.br/sankofa/article/view/88860.
CUNHA, Anabela. Influência da literatura brasileira na literatura angolana. Revista Angolana de Sociologia, Luanda, 7, p. 129-140, 2011. Disponível em https://journals.openedition.org/ras/1227.
HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. A África na sala de aula: visita à História Contemporânea. Editora Selo Negro. São Paulo, 2005.
PADILHA, Laura Cavalcante. Entre voz e letra: o lugar da ancestralidade na ficção angolana do século XX. Niterói: EdUFF, Rio de Janeiro: Pallas Editora, 2007.
PINTO, João P. H. Literatura e identidade nacional em Angola. Revista Hydra: Revista Discente de História da UNIFESP, v. 2, n. 3, p. 105-132, jun. 2017. Disponível em https://periodicos.unifesp.br/index.php/hydra/article/view/9104.