top of page

ORALIDADE

  • Nosso Musseque

Em Nosso Musseque, a oralidade se apresenta a todo momento. Conforme demonstrado na resenha do sétimo módulo, o escritor utilizou diversas expressões a palavras em idioma quimbundo, registrando as sentenças majoritariamente da forma como o povo falava, alterando as conexões sintáticas nas frases e enriquecendo ainda mais o enredo com a força da cultura local em sua pluralidade. Sobre essa escolha literária, Luandino falou em entrevista que

 

Não era um ato inocentemente literário, claro, era também uma escolha política para mostrar que, mesmo na língua do colonizador, era possível escrever de maneira que deixasse o colonizador incomodado. Era uma forma de provar que havia uma diferença cultural na língua, algo que, a nosso ver, já justificava por si só a autonomia e a emancipação política do país. Se mesmo na língua que nos era imposta já tínhamos atingido um certo nível de diferenciação, então era necessário um reconhecimento oficial dessa diferença. (VIEIRA, 2010, p. 2)

 

Nos relatos da turma de Zeca Bunéu pode-se observar a forma como o autor inseriu a oralidade dos musseques luandenses na narrativa do romance. O excerto abaixo apresenta uma dessas situações, quando alguns dos meninos conversam antes de partirem para uma distribuição de brinquedos.

 

— Ai, Zeca! Este ano vamos só receber nossas xatetes(1) de corda, não é?

— Vão ter mas é tuji! — gozava o Zito, triste desde o princípio da conversa.

Discutiam se Menino Jesus é o mesmo que Papai Noel, cada um defendendo sua sabedoria, no meio dos sorrisos um pouco tristes do Xoxombo:

— Makutu!(2) Meu pai diz é os pais dos meninos que põem os brinquedos!...

O Zito concordou, sabia muito bem, o pai dele também estava dizer a mesma coisa. O Zeca Bunéu ainda quis, com as partes dele, defender o Menino Jesus, mas Xoxombo aconselhou:

— Zeca, deixa só! Se você encontra lá no sapato, te juro é o teu pai que põe lá. Como é o Papai Noel podia carregar os brinquedos para todos os miúdos? (VIEIRA, 2003, 24-25)

Sugestão de atividade

Com base na leitura do romance Nosso Musseque, solicite que os alunos elaborem individualmente um pequeno texto refletindo a respeito de como a construção literária baseada nas memórias e nos relatos dos garotos podem auxiliar na compreensão do momento histórico angolano da década de 50, pouco antes da explosão da guerra de libertação.


É fundamental que na aula anterior sejam expostos e debatidos os fatores internos e externos que concorreram para a organização e fortalecimento da luta pela independência em Angola.

Notas

(1) Caminhão de brinquedo.

(2) Mentira!

Referências

VIEIRA, Luandino. “Lusofonia é um processo de choques e lutas”. [Entrevista concedida a] Guilherme Freitas. Prosa – O Globo (blog), nov. 2010. Disponível em https://blogs.oglobo.globo.com/prosa/post/luandino-vieira-lusofonia-um-processo-de-choques-lutas-338445.html

________________. Nosso Musseque. Lisboa: Editorial Caminho, 2003.

bottom of page