HISTÓRIA & LITERATURA
Angola e a luta anticolonial
MEMÓRIA
-
Nosso Musseque
As memórias permeiam toda a narrativa do romance, tecendo o retrato sociorracial de um musseque que sofre com os impactos da violência colonial, das discriminações, dos processos de desapropriação de moradores pobres, num contexto que expõe a necessidade de união entre os sujeitos explorados.
Toda a narrativa é baseada nas memórias dos tempos de infância no musseque, seja do narrador principal, seja de seus amigos que também fazem relatos, bem como das lembranças dos moradores mais velhos do bairro.
Neste romance, o professor tem a possibilidade de utilizar a memória em diversas passagens, trabalhando até mesmo a ideia de fonte histórica, visto que o narrador principal se utiliza das memórias faladas (lembranças suas e dos amigos) e escritas (caderno do amigo Xoxombo e o jornal escrito pela turma de amigos com o apoio do capitão Bento Abano) para organizar todo o seu relato. Abaixo segue um recorte do texto onde o narrador principal explica como conseguiu sua “fonte” para contar uma das histórias do romance.
Mais ou menos assim é a lembrança daquele caderno do Xoxombo e, nalgumas folhas, na sua letra redonda, ele tinha escrito conversas e confusões lá do musseque. Mas não continuou contar as histórias; adiantou fazer desenhos de asneiras e um dia sá Domingas encontrou, deu-lhe com o pau(1) de funji, rasgou e queimou o caderno. Só que o Zeca, com seu espírito curioso, estava espreitar a surra no Xoxombo, foi ainda apagar o fogareiro e salvou uns bocados.
Alguns deitei fora, só tinha desenhos de malandro; o resto eu guardei porque o Xoxombo escrevia coisas que ele pensava e que, sempre que eu leio, fico também a pensar. (VIEIRA, 2003, p. 22)
Sugestão de atividade
Divida a turma em equipes de no máximo 5 integrantes e solicite que eles confeccionem um pequeno texto jornalístico (no formato que acharem melhor, desde que seja de caráter jornalístico, no sentido de investigação e relato organizado dos fatos) abordando alguma história de suas famílias ou de sua vizinhança (rua, bairro, localidade).
Após essa etapa, peça que eles leiam o romance Nosso Musseque, e observem as
similaridades com o trabalho que acabaram de produzir.
Por fim, organize uma apresentação das equipes, num momento onde as experiências
serão compartilhadas, analisando temas como memória e fontes históricas. Esta proposta de atividade foi pensada preferencialmente para uma intervalo de tempo e aulas um pouco mais extenso, tendo em vista o tempo para que os estudantes possam dar conta de toda a coleta e estruturação dos dados, bem como da leitura do romance.
Notas
(1) Instrumento para fazer o funji, espécie de pirão de farinha de milho ou de mandioca, típico da culinária do norte de Angola.
Referências
VIEIRA, Luandino. Nosso Musseque. Lisboa: Editorial Caminho, 2003.