Em As Aventuras de Ngunga as memórias aparecem logo no início, no relato a respeito do protagonista da trama, através das quais passamos a conhecer seu passado de sofrimentos causados pelo regime colonial, que o levaram a ser um órfão, bem como compreender alguns dos fatores que concorreram para que ele viesse a encarnar desde jovem a mentalidade de um guerrilheiro. Segue abaixo um parágrafo no primeiro capítulo descrevendo o percurso do garoto até o momento em que se inicia sua trajetória no romance.

Ngunga é um órfão de treze anos. Os pais foram surpreendidos pelo inimigo, um dia, nas lavras. Os colonialistas abriram fogo. O pai, que era já velho, foi morto imediatamente. A mãe tentou fugir, mas uma bala atravessou-lhe o peito. Só ficou Mussango, que foi apanhada e levada para o posto. Passaram quatro anos, depois desse triste dia. Mas Ngunga ainda se lembra dos pais e da pequena Mussango, sua irmã, com quem brincava todo o tempo. (PEPETELA, 1981, p. 4)

Em outros momentos da trama Ngunga sempre vai se lembrando de suas experiências e principalmente das pessoas com quem se relaciona, pois assim vai formando sua personalidade de combatente do MPLA.

As pessoas de quem gostara e de quem não gostara vinham-lhe à lembrança: os pais, Mussango, Kafuxi, Imba, Nossa Luta, Mavinga, Chivuala, União. Bons ou maus, todos tinham uma coisa boa: recusavam ser escravos, não aceitavam o patrão colonialista. Não eram como os G.E.(1) ou o cozinheiro da PIDE. Eram pessoas; os outros eram animais domésticos. (PEPETELA, 1981, p. 41)